segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O Homem Dependurado

Silêncio...
Subitamente, escutei o choro do corvo.
A quietude da brisa, aquecendo a calidez do caminho, quando as torres escondem a negritude do dia.
As minhas botas estacaram, como por vontade própria, e ergui os olhos aos céus, como sempre o fiz... Vezes incontáveis, em noites como esta...
Este foi o espectáculo com que me deparei e esta é a sua história:

Quem, de nós aqui
Ansia por descer às profundezas,
Tão célere quanto o Abismo engole?

Sofrendo pacientemente, com firmeza, em silêncio,
Em solidão...

Em solidão!
Pois quem se atreveria
A ser um convidado aqui,
Ser o teu convidado?

Uma ave de rapina, talvez
Pudesse ela dependurar-se
Com malícia, no cabelo
Do sofredor firme,
Com uma suave gargalhada louca...
O riso demente de uma ave.

"Porque tão firmemente te seguras?"
Ali, ela escarnece destilando crueldade:
"São necessárias asas, quando se gosta do Abismo..."

Dentro de pouco, ainda caçador de Deuses,
Rede de pesca de toda a virtude,
Seta contra o Mal!
Agora,
Caçado por ti próprio,
Presa de ti mesmo,
Profundamente em ti, tão enraizado...

Agora,
Sózinho contigo mesmo,
Dividido na tua própria sabedoria,
No meio de centenas de espelhos
Uma fraude perante ti mesmo,
Entre centenas de memórias-fantasma...
Inseguro
Cansado de todas as feridas,
Vagueando em gelo,
Estrangulado pelos teus próprios laços...
Conhecedor de ti mesmo,
Réu de ti mesmo,
Juíz de ti mesmo,
Executor de ti mesmo.

Rapidamente eremita sem Deus,
Confrontando os demónios de frente,
Os soberbos príncipes escarlate,
Rubros de prazer, culpa, sangue, paixão, ódio e amor.
No carmim intemporal da inflamada intensidade...

Não é possível ficar suspenso para sempre,
Como tu,
Homem Dependurado!

6 comentários:

Ruela disse...

Continuemos a instaurar a noite no dia...




Abraço.

O Viajante de Negro disse...

Existem cruzadas mais fáceis, companheiro de viagem...
Mas não tão recompensadoras. Façamo-lo.

Abraço.

Jo disse...

Tambem há mulheres dependuradas...
...e depois de vez em quando caem.
:D

beijo*

Ruela disse...

Agradeço a sinceridade no comentário do post no Neo-Artes... estou cansado de comentários com elogios automáticos sem sentimento, já nem consigo responder...
Tirando um grupo restrito de amigos, o resto já não me diz nada, tanto faz que aparecem como não...não faço colecção de comentários.
Será que essas pessoas não exergam que eu não peço para gostarem do que faço...
Aí marcas-te a diferença...assim é que é...quando eu não gosto ou gosto menos também o digo.
Gostei deste começo ou re-começo,
virei aqui sempre que puder mas os meus comentários nunca estarão à altura da tua escrita...o meu meio de expressão é outro...


Abraço.

Ruela disse...

...apareçam...

Ruela disse...

Ficaste dependurado ;)